No tempo em que os animais falavam (mas nem todos se entendiam, como veremos...), ia certo dia um lenhador pela floresta, quando ouviu os urros de uma onça, que caíra numa armadilha preparada por alguns caçadores.
O lenhador se aproximou da armadilha e a onça suplicou-lhe que a tirasse dali. O homem ficou desconfiado:
- Eu, hein?! Você é uma onça, bicho perigoso. Se eu a soltar, depois você vai querer me devorar.
Mas a onça jurou por todas as suas pintas que não, imaginem, jamais faria algo contra seu próprio benfeitor. Se ele a soltasse, ela lhe seria eternamente agradecida, eternamente reconhecida, eternamente agradecida, eternamente reconhecida, eternamente sua devedora, e tanto falou que acabou convencendo o homem.
Porém... assim que ele a soltou das cordas que a prendiam, a falsa o agarrou:
- Sinto muito, amigo, mas estou faminta e você será meu almoço!
- O quê?! – bradou o lenhador. - Você promete, jura e ainda me faz uma ingratidão dessas?
- Ingrato é o ser humano – filosofou a onça. – Pois não estraga a floresta que lhe dá a vida? Eu sou apenas uma onça, animal que come carne, como você sabe, e estou seguindo meus instintos.
Mas o lenhador argumentou: naquele caso, quem tinha razão era ele, a ingrata era ela e, já que não chegavam a um acordo, teriam que chamar um juiz para decidir a contenda.
A onça concordou.
O primeiro a passar ali foi um tatu, logo chamado para intervir na questão e julgar as partes contrárias. O tatu ouviu os argumentos dos dois e depois decidiu:
- Não posso fazer um julgamento perfeitamente justo se não souber exatamente como é que a onça estava antes de ser solta. Por favor, senhora onça, queira voltar à sua posição na armadilha.
A onça, distraída, caiu no logro. Voltou à armadilha e tornou-se novamente uma prisioneira.
- Vamos embora – disse o esperto tatu ao homem. – Ela que suplique agora aos caçadores e aprenda que o bem não se paga com o mal.
(Rosane Pamplona)
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